quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Chuva + Cadeira = Aquaplanagem

Essa semana foi do São Pedro que resolveu se revoltar provocando gigantescas pancadas de chuvas, o que fez me lembrar de um grande sufoco que passei devido a essas "revoltas de São Pedro" há uns anos atrás.
Era dia de estréia de um musical que eu estava fazendo parte, e o diretor pediu que chegássemos mais cedo para fazermos uma "geral" e ajustar os últimos detalhes, me programei para sair de casa mais cedo, já que para chegar ao teatro, tinha que pegar um ônibus e um metrô, demorando aproximadamente 1h30 minutos.
Quando estava saindo, olhei para o céu, estava preto, escuro, dizendo, "Vou despejar milhões litros água em alguns instantes na sua cabeça", fiquei desesperada, pois estava com uma mochila, uma caixa de pizza de papelão (fazia parte do figurino), cabelo impecável com chapinha(alisado, cabelo ruim é dose), de saia, de sandália, e com um pequeno guarda-chuva. Fui com a minha cadeira no máximo da velocidade até o ponto da avenida, naquela época ainda não existiam tantos ônibus adaptados, eu tinha que pegar um normal e pedir que me ajudasse a entrar e detalhe que a linha que passava para ir ao metrô era precária, passava um a cada 30 minutos. A chuva já estava pra cair, dava pra sentir o cheiro da chuva chegando, e apareceu um ônibus(não adaptado) fiz o sinal e o motorista parou, olhou pra mim e perguntou "Você vai querer subir mesmo? Porque eu estou com pressa" nossa, não pensei duas vezes, já devolvi rispidamente "E o senhor quer que eu fique aqui, com a chuva despencando a minha cabeça? Eu tenho um compromisso, se eu não pegar esse, não vou conseguir chegar" a cara dele era a mais feia que podia ser, mas ainda bem que havia pessoas boas e dispostas a ajudar dentro do ônibus e me ajudaram a entrar. Me pegaram no colo e me colocaram sentada num banco, era um ônibus daqueles sanfonados, eu fiquei lá no fundo, pois a porta que passava a cadeira era a última, do fundão, pegaram a cadeira (2 rapazes) e com muito esforço conseguiram colocar perto de mim, fui segurando-a.
Bem, lá estava eu com raiva do motorista, porém muito aflita pelo o que estava por vir, uma verdadeira tempestade. Ela veio, muito forte, e logo as ruas começaram a alagar. O ônibus seguia lentamente, até um momento que em uma avenida grande, não teve jeito, teve que parar, ficamos mais ou menos 40 minutos parados até um momento que deu pra continuar seguindo o caminho. Chegou o momento que eu tive que descer, a chuva ainda estava muito forte, me ajudaram novamente, abri meu "litttle" guarda-chuva que mais era um enfeite, porque de guarda-chuva não tinha nada e meti a cara naquele temporal. O trecho que eu tinha que rodar, nem era muito longo, mas naquele dia tornou-se. Teve um momento que tive que encarar uma parte alagada, não dava pra saber se era fundo ou não, fui e era fundo! A água suja e nojenta bateu e molhou minha perna e meus pés (eu estava de saia e sandália), bléééééhhh, que nojo!! E aí que continuei em frente, "aquaplanando", pois a cadeira nem encostava mais as rodas no chão, até chegar na entrada do metrô. Fui para o metrô em um estado lastimável, acho que olhavam com dó, querendo me dar uma esmola pra ajudar, estava molhada, sem chapinha no cabelo (nessa altura já tinha ido pro espaço), com uma caixa de pizza (suposto resto de comida), eu era a própria mendiga...mas não liguei, peguei o metrô com o coração a mil por causa do atraso, até a estação que fica próxima ao teatro, e aí novamente tive que "rodar" mais um trecho debaixo da chuva, que estava dando uma trégua, até a hora que entrei na galeria do teatro já não chovia mais. Demorei ao todo 5 horas e alguns minutos para chegar, cheguei achando que fosse tomar aquela bronca por causa do atraso, mas só havia chegado duas pessoas e por "increspa que parível" estavam impecávelmente secas e maravilhosas. A estréia foi linda, embora alguns dos assistidos não conseguiram chegar a tempo para assistir por causa da chuva. Mas o que importa é que nós todos estávamos lá com muito amor, vontade de fazer e fizemos. =)


Musical Banquete da Vida- Cia Mix Menestréis-Oficina dos Menestréis

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Rótulos...

Nessas aventuras de pegar ônibus pra cá e pra lá, rolam muitas coisas, uma delas que mais me divirto são os nomes que recebo, os "rótulos". Quando preciso descer do ônibus, aperto um botão exclusivo que apita lá na frente, no ouvido do motorista, as vezes esse apito dispara e não para mais de apitar, imagino a felicidade do motorista e de todos que estão no ônibus, fica aquele bip, bip, bip, a impressão que tenho é que estamos todos em uma grande sala da UTI (na UTI tem aqueles aparelhos que monitoram batimento cardíaco, e ficam apitando constantemente), só espero que não pensaram que eu fiquei apertando desesperadamente, apesar que é bem provável que isso tenha passado na cabeça de alguém!
Além de apertar esse botão e ficar rezando para não disparar, eu grito com a minha super voz de gazela, "Cobradoooor, cobradoooor, vou descer no próximo :D" e aí o cobrador também praticando a voz que tem grita para o motorista "A garota da cadeira vai desceeeeer" bem, eu disse que recebo vários rótulos, e esse foi um deles, vou listar alguns que eles mais usam:
- A cadeirante vai descer (ok, gostei)
- A especial vai descer (hummm, especial... sou mesmo especial, meiga, linda, carismática...hehehe tem que levar no senso de humor)
- A cadeira vai descer... ( O motorista grita: e a Moça fica? - Claro que ele estava tirando uma da cara do cobrador, pois na hora que passei por ele, ele disse: Eu estava brincando viu? Eu queria que ele entendesse que vc é alguém e não uma cadeira de rodas. - Gente, "choquei" esse motorista recebeu dez estrelinhas nesse dia :D)
- A portadora de necessidades especiais vai descer... (Acho que ele colou esse nome do manual da SP Trans de como transportar deficientes hein! :P)
- A moça cadeirante vai descer... (Jóia, esse é o melhor!)

Me divirto com os nomes que recebo, não me incomodam, acredito porque eu aprendi depois de muito tempo que sou o que sinto, e não o que dizem.

Tenho muito que agradecer ao trabalho da maioria dos motoristas e cobradores que estão dispostos a ajudar a todos que possuem algum tipo de deficiência ou limitação pois assim ajudam a construir uma sociedade melhor.

A rotina...

A idéia do post de hoje é de contar um dia normal da minha rotina, só uma confissão, a minha rotina sempre muda, nunca é a mesma, não sei porque, mas não curto rotinas. :P
Dia normal = faculdade e trabalho.

O dia começa bem cedo, acordo por volta das 05:30 (tá vai, tem dia que isso estende para 5:50) para estar saindo de casa às 06:45, ainda possuo a sorte de ter uma "mãetorista" para me levar até a faculdade, já fiz a tentativa de pegar ônibus nesse horário, sem condições, os ônibus chegam lotados, para entrar precisa expulsar metade das pessoas para abrir a rampa do ônibus, não sei se sabem, hoje em são paulo existem uma grande quantidade de ônibus adaptados, ou seja, possuem uma rampa que abre e fica quase no nível do chão do ponto de ônibus, assim facilita a entrada de pessoas com cadeira de rodas, que é o meu caso, bem, pegar ônibus de manhã não deu certo, ainda ficará para os mais corajosos que eu.


Imagem do site da Prefeitura de São Paulo

A minha jornada de "rodar rodas" pelas ruas começa depois que terminam as aulas do dia, por volta das 11:40 saio da faculdade, vou até o metrô, faço uma baldiação para pegar um trem, desço do trem e faço uma pausa para o almoço, almoço em algum lugar (haja V.R para bancar isso todo dia) e depois com o "barrigão" cheio "rodo" um trecho de 600m até um ponto de ônibus de uma avenida famosa. Lá pego um ônibus adaptado para finalmente chegar ao trabalho, mas esqueci de contar um detalhe, tenho uma vantagem (mas toda vantagem tem suas desvantagens, assunto para próximos posts) minha cadeira de rodas é motorizada, ou como alguns dizem automatizada "nossa, sua cadeira é automatizada" ou elétrica "Que legal, é elétrica" "Vai gasolina?" .
Muitos dos cadeirantes usam cadeira do tipo manual, aquelas que tem que rodar com o braço, "haja braço..." no meu caso, uma cadeira assim só conseguiria ir até a porta de entrada da minha casa, pra minha sorte fizeram as motorizadas!

Na hora de ir embora, isso ocorre por volta das 22:00 a "mãetorista" entra em ação novamente.
Essa foi a rotina normal, nos próximos posts, contarei as coisas engraçadas que ouço e que ocorrem, os imprevistos, e também as que não são tão engraçadas, mas servem de aprendizado.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Apresentando...

Com tantos meios que hoje possuímos para nos comunicar e expressar idéias, por "increspa que parível" o blog é o último que eu pensava em obter... mas hoje, sinto a necessidade de ser mais uma pessoa que através de palavras simples poderá ser um incentivo para leitores curiosos seguirem uma vida mais tranquila e com mais alegria.

Antes me apresento, sou mais uma simples mortal que vive em um país que no momento está indignado com as sujeiras do senado (FORA SARNEY), não sou criativa a ponto de me destacar como pessoas com atitudes que mostram a cara por aí, sou apenas alguém que faz escolhas o tempo todo na vida, sou contra a injustiças, defendo sempre os mais fracos e não me considero vítima de uma sociedade preconceituosa.
Por que digo isso? Digo porque sou à 7 anos "cadeirante" termo usado para quem usa cadeira de rodas por possuir alguma limitação física, e acredito que nos sentimos vítimas de uma sociedade preconceituosa quando a nossa posição perante a nós mesmos é preconceituosa.

Bem, a idéia deste blog como o título já diz "Rodas" seguido de "Vida e Caminho" quer dizer que quero mostrar que através delas "rodas", sigo minha vida escolhendo caminhos, porém caminhos que só posso escolher usando rodas. Isso é uma limitação? Hum, talvez para alguns, mas para mim não é.

Fazemos escolhas o tempo todo na vida, as vezes nem percebemos, mas quando digo que faço escolha de caminho, estou dizendo que opto pelo que mais me faz feliz, que me sinto confortável, afinal são as escolhas que garantirão ou não a nossa felicidade.

Neste blog, postarei vivências minhas pessoais que tive nestes 7 anos. Espero que gostem.