Era dia de estréia de um musical que eu estava fazendo parte, e o diretor pediu que chegássemos mais cedo para fazermos uma "geral" e ajustar os últimos detalhes, me programei para sair de casa mais cedo, já que para chegar ao teatro, tinha que pegar um ônibus e um metrô, demorando aproximadamente 1h30 minutos.
Quando estava saindo, olhei para o céu, estava preto, escuro, dizendo, "Vou despejar milhões litros água em alguns instantes na sua cabeça", fiquei desesperada, pois estava com uma mochila, uma caixa de pizza de papelão (fazia parte do figurino), cabelo impecável com chapinha(alisado, cabelo ruim é dose), de saia, de sandália, e com um pequeno guarda-chuva. Fui com a minha cadeira no máximo da velocidade até o ponto da avenida, naquela época ainda não existiam tantos ônibus adaptados, eu tinha que pegar um normal e pedir que me ajudasse a entrar e detalhe que a linha que passava para ir ao metrô era precária, passava um a cada 30 minutos. A chuva já estava pra cair, dava pra sentir o cheiro da chuva chegando, e apareceu um ônibus(não adaptado) fiz o sinal e o motorista parou, olhou pra mim e perguntou "Você vai querer subir mesmo? Porque eu estou com pressa" nossa, não pensei duas vezes, já devolvi rispidamente "E o senhor quer que eu fique aqui, com a chuva despencando a minha cabeça? Eu tenho um compromisso, se eu não pegar esse, não vou conseguir chegar" a cara dele era a mais feia que podia ser, mas ainda bem que havia pessoas boas e dispostas a ajudar dentro do ônibus e me ajudaram a entrar. Me pegaram no colo e me colocaram sentada num banco, era um ônibus daqueles sanfonados, eu fiquei lá no fundo, pois a porta que passava a cadeira era a última, do fundão, pegaram a cadeira (2 rapazes) e com muito esforço conseguiram colocar perto de mim, fui segurando-a.
Bem, lá estava eu com raiva do motorista, porém muito aflita pelo o que estava por vir, uma verdadeira tempestade. Ela veio, muito forte, e logo as ruas começaram a alagar. O ônibus seguia lentamente, até um momento que em uma avenida grande, não teve jeito, teve que parar, ficamos mais ou menos 40 minutos parados até um momento que deu pra continuar seguindo o caminho. Chegou o momento que eu tive que descer, a chuva ainda estava muito forte, me ajudaram novamente, abri meu "litttle" guarda-chuva que mais era um enfeite, porque de guarda-chuva não tinha nada e meti a cara naquele temporal. O trecho que eu tinha que rodar, nem era muito longo, mas naquele dia tornou-se. Teve um momento que tive que encarar uma parte alagada, não dava pra saber se era fundo ou não, fui e era fundo! A água suja e nojenta bateu e molhou minha perna e meus pés (eu estava de saia e sandália), bléééééhhh, que nojo!! E aí que continuei em frente, "aquaplanando", pois a cadeira nem encostava mais as rodas no chão, até chegar na entrada do metrô. Fui para o metrô em um estado lastimável, acho que olhavam com dó, querendo me dar uma esmola pra ajudar, estava molhada, sem chapinha no cabelo (nessa altura já tinha ido pro espaço), com uma caixa de pizza (suposto resto de comida), eu era a própria mendiga...mas não liguei, peguei o metrô com o coração a mil por causa do atraso, até a estação que fica próxima ao teatro, e aí novamente tive que "rodar" mais um trecho debaixo da chuva, que estava dando uma trégua, até a hora que entrei na galeria do teatro já não chovia mais. Demorei ao todo 5 horas e alguns minutos para chegar, cheguei achando que fosse tomar aquela bronca por causa do atraso, mas só havia chegado duas pessoas e por "increspa que parível" estavam impecávelmente secas e maravilhosas. A estréia foi linda, embora alguns dos assistidos não conseguiram chegar a tempo para assistir por causa da chuva. Mas o que importa é que nós todos estávamos lá com muito amor, vontade de fazer e fizemos. =)
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Musical Banquete da Vida- Cia Mix Menestréis-Oficina dos Menestréis
