segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Praiana

Estava pensando, o que postar no primeiro post de 2011? Já que desde que virou o ano estou praticamente todos os finais de semana na praia, que tal falar de como é a praia para alguém que usa cadeira de rodas e possui algumas limitações físicas? E se tratando de alguém, eu, que quando menor, criança e pré-adolescente podia ir correndo até o mar e resistir bravamente às fúrias das ondas...interessante, então lá vamos nós...

Pra começar preciso explicar o porque que sou cadeirante. Eu tenho uma deficiência genética chamada Distrofia Muscular, do tipo Faceo- Escapulo- Umeral. Essa deficiência acomete a musculatura de algumas partes do corpo, atrofiando-as e assim a pessoa com essa deficiência pode perder a capacidade de locomoção, se manter em pé, levantar os braços, fazer força, e outros comprometimentos de ordem muscular. Bem, e aí que essa deficiência não acomete esses músculos de uma hora para a outra, ela vai aos pouquinhos, bem lentamente (no meu caso), ao ponto que aos 16 anos precisei de uma cadeira de rodas para poder ganhar novamente a minha liberdade (história para um próximo post).

Agora sim, a praia.

Desde criança adoro nadar como já disse num post anterior, aos 7 anos fui colocada na natação, logo, amo água. Praia sempre esteve presente na minha vida, na minha infância principalmente, minha Nonna tinha casa na praia e sempre eu estava por lá. Com o passar dos anos, quando comecei a ter mais dificuldade na questão de força, a praia começou a se tornar algo perigoso, aversivo, uma vez que as ondas tinham mais força que eu, comecei a ter medo. Então resolvi não entrar mais no mar e nem aceitar ajuda de ninguém, pois adolescente, sabem como é, rebeldia total, e conseqüentemente raramente freqüentava a praia, e quando freqüentava ficava só na areia, tostando.

Quando foi em 2008, viajei com uns amigos para o Guarujá já com a intenção de ficar só na milanesa (rolando na areia), e um amigo insistiu que me levaria no colo no mar. Relutante a ideia, mas ao mesmo tempo algo dentro de mim dizia que seria muito importante para mim pois já faziam alguns anos que não entrava no mar, seria então uma nova experiência praticamente, e foi. Agarrei no pescoço dele fortemente, e fomos. As ondas batiam com força mas ele não perdia o equilíbrio. No começo fiquei com muito medo de cair e as ondas me levarem para bem longe (pelo menos era isso que a minha mãe dizia, que o mar é traiçoeiro). Meu amigo era grande, alto, forte, e eu magrela, o que facilitou muito naquele dia de mar bravo. Fui relaxando, e comecei a curtir. Digo que foi a primeira vez depois de grande que entrei no mar. Inesquecível.

Das histórias de praia depois de cadeirante, não pode faltar também a vez que fui para a praia grande (no ano passado) com umas amigas. Passeando pela V. Guilhermina deparamos com um stand enorme escrito "Praia Acessível". Quase gritei quando vi. Fiquei pensando na hora: O que é isso? Como será isso? Areia ladrilhada? Praia sem ondas? Salva-vidas fortes musculosos exclusivos só para mim? Ai ai o que é isso? Daí logo quando nos aproximamos, avistamos cadeiras de rodas especiais para entrar na água. Meus olhos brilhavam, tudo bem que salva-vidas seria uma boa ideia também, mas a ideia dessas cadeiras me extasiaram. No dia seguinte voltamos para eu experimentar essa novidade. Fui super bem recebida pelos responsáveis do projeto e logo já disponibilizaram uma cadeira acessível (vide foto abaixo). Dois responsáveis me levaram com essa cadeira até dentro do mar, o mais legal que as ondas vinham com tudo e a cadeira não virava, foi totalmente projetada para encarar as ondas. Foi muito gostoso, valeu muito a pena.

Essa semana estive novamente na praia grande e o projeto não se encontrava. Tudo que é bom de verdade parece que não vinga nesse país (sim, falo mesmo!). O mais legal que o medo de entrar no mar e encarar as ondas não existem mais, nessa semana na praia grande, um amigo me levou até numa parte onde não tinham tantas ondas quebrando e fiquei lá com a minha prima, tudo bem que em alguns momentos algumas das danadas ondas pegavam a gente de surpresa e eu experimentava aquela água salgada "saborosa", olhos ardendo, mas nada de afogamento grave, foi bem gostoso. Resultado: voltei a ativa no mar.

É isso!

Cadeirantes: Podem ir no mar sim, desde que saiba no mínimo respirar debaixo da água, o mar estando calmo, ir até a beira com a cadeira, (sem deixar a água salgada encostar nas rodas pois estraga) e alguém (de preferência forte) pega no colo e te leva até uma parte razoavelmente tranqüila, fica com alguém que você goste e confie curtindo o balanço do mar, as ondas, a "refrescância", tudo de bom! Recomendo!




quarta-feira, 10 de novembro de 2010

a vida ensina na prática...

Em abril deste ano tomei uma importante decisão, sair do emprego em que eu era concursada e cair no mundo dos estágios, entrar de cabeça na minha carreira, Psicologia.

Não foi fácil sair de uma zona de conforto (salário garantido todo começo do mês) para ficar esperando talvez uma oportunidade de estágio em alguma área que eu goste.

Foi a melhor escolha que fiz, após dois meses de espera, consegui um estágio em um lugar que eu sempre tive vontade de trabalhar, muito embora não sabia exatamente o que era feito.

Estou aprendendo na prática desse estágio o que eu demoraria anos e anos para aprender em uma rotina normal...
Estou aprendendo o que é vida...
Estou aprendendo o que é respeito...
Estou aprendendo que nem todos os problemas tem solução, marcas ficam para sempre, o que existe é compreensão...
Estou aprendendo que o amor é a cura de tudo...
Estou aprendendo que aqueles que carregam o fardo mais pesado são os mais fortes...
Estou aprendendo que somos os únicos responsáveis pelas nossas escolhas e por vezes sofremos muito por conta delas...
Estou aprendendo que não adianta falar com quem não quer ouvir e com quem quer ouvir adianta MUITO...
Estou aprendendo que não adianta reclamar quando não temos uma solução ou então quando não estamos com "vontade" de mudar...
Estou aprendendo que o silêncio de alguém é de quem mais grita pedindo socorro...
Estou aprendendo que cada um tem seu "jeitinho" de enxergar o mundo e que não o existe certo e nem o errado...
Estou aprendendo que um "Boa Tarde" bem dado pode mudar o humor de alguém, um olhar, um sorriso também...
Estou aprendendo que aprendo muito com aquele que menos "aparenta" ensinar alguma coisa...
Estou aprendendo que somos todos iguais com a exceção de que a diferença é forma como externalizamos o que sentimos...
Estou aprendendo que falta muito para eu aprender...
...vejo como sou minúscula nisso tudo
...e que mesmo assim vou em frente,
...fazendo a minha parte com muito amor e dedicação.




quinta-feira, 24 de junho de 2010

Viagem ao RJ, começo de autonomia?

Depois de uma aula na faculdade, fiquei refletindo no que o professor disse, na importância de participarmos de simpósios, palestras, cursos, e naquele dia comecei a fazer buscas de palestras que eu poderia ir... e acabei achando no próprio site do professor um simpósio com um tema que me identifiquei logo de cara, "Bebês e a Psicanálise: um diálogo" porém com um detalhe, no RJ. É engraçado porque logo quando vi pensei, dá pra eu ir...vou de ônibus, arrumo um lugar pra dormir e volto, são só dois dias mesmo. Comecei a pesquisar profundamente, olhei o google maps, vi que era ao lado do Maracanã (em 2004 fiz minha classificação lá, não era tão desconhecido), achei um hostel na avenida de trás, liguei para saber da acessibilidade e reservei, peguei o telefone do taxi acessível (taxi adaptado para cadeira de rodas), comecei a estipular horário de ida e volta, até tentei ir de avião mais eles não deixam baterias líquidas embarcarem, somente se for de gel ou lítio então tive que escolher a companhia de ônibus e pronto, teoricamente estava tudo certo.

Contei para a minha mãe a ideia e ela ficou meio assustada, disse que era perigoso, pois eu podia levar uma bala perdida, confesso que fiquei com medo de levar mesmo rs... mas insisti que daria certo, mostrei para ela, e acabei convencendo, não tinha nada para dar errado.

No dia da viagem liguei para a companhia de taxi marcando que me pegassem na rodoviária no horário que chegaria (no dia seguinte).
Embarquei 00h30, com aquele frio na barriga sem a menor ideia do que estava me esperando, primeira vez que viajava sozinha, não teria nenhum conhecido me esperando, uma aventura.
Chegamos no RJ por volta das 06h40, o taxi estava me esperando, detalhe, taximetro ligado pois havia passado 15 min do combinado.
Comecei a ter crises de risos internos do sotaque carioca, primeiro porque eu não conseguia falar o nome da universidade, "uerj", pois tem um lance de acentuação, seria assim "uéérrrgixx" bem esquisito, só aprendi no último dia. Fui direto para a "uéérrrgixx" onde seria o simpósio, cheguei bem cedo, 07h15, só tinha a mulher dos crachás. Entrei no auditório, e lá fiquei. Teve uma pausa para o café, onde tinham vários comes e bebes, e um "tiozinho" dos livros, não resisti acabei trazendo dois =D. Na hora do almoço, tive que procurar algum lugar para comer, disseram que dentro da universidade eu conseguiria encontrar, porém passei por uma e não deu vontade de almoçar lá, então resolvi arriscar sair da universidade. Quando chego a porta, uma surpresa, TINHA GUIA REBAIXADA \O/ primeiro ponto positivo, consegui atravessar a avenida, e fui procurar uma lanchonete. Achei dois botecos, preferi o segundo, tinha mais gente. Comi mal, pois sou fresca pra comer, mas o feijão (preto, lá é preto o principal, marrom é raro) estava muito bom. Agora, fiquei bem assustada pois drogados andam normalmente pelas ruas (se bem que eu estava numa região de periferia) pedindo esmola, pediram para mim duas vezes. Voltei ao simpósio e tive uma tarde agradável de palestras. Ao final, descobri que tinha um shopping próximo da região e resolvi ir para poder jantar e dar uma volta. Peguei um taxi (tão lindo os taxis amarelos ai ai) lá de dentro da "uéérrrgixx", achei muito engraçado, pois os caras não estão acostumados com cadeirantes e ainda por cima paulista, além do motorista foi um outro junto, para "ajudar". Quando estávamos chegando perto do shopping avistei que colado ao shopping havia um morro (favelas) e perguntei, qual era aquele morro, e era dos "Macacos"... aí pensei, "É, estou mesmo no Rio", e quando passávamos na frente do estacionamento para entrar, várias viaturas de polícia fecharam o estacionamento, desceram armados com fuzil e metralhadora, fazendo parar todos os carros que saiam do shopping...daí falei, "Moço, será que não é melhor eu não entrar aí?" aí ele disse que assim que fizéssemos a volta os policiais já teriam ido embora, e dito e feito... mas quem garantia que não ia ter bandido dentro do shopping? Bem, eu fui do mesmo jeito, já estava lá... achei o shopping muito parecido com o shopping Market Place de SP, só que lá se chama Iguatemi. Fui no Mcdonald's para ver se o gosto era o mesmo, e era!!! rs.. Dei uma volta e andando pelas lojas uma senhora me falou (imaginem sempre o sotaque) "Você anda sozinha?" aí eu respondi que sim... aí ela "Ah que bom, deve ser para você aprender a se virar né?", tive que concordar, mas ela nem imaginava o quão longe eu estava da minha casa e naquele momento desejei ter 5 anos para poder abrir o berreiro no meio do shopping pedindo a minha MÃÃÃÃEEE... rs... Terminei o passeio, marquei um taxi para a volta (rodoviária) do dia seguinte e fui para o hostel dormir. Peguei um taxi (suado por sinal, pois ao contrário de sp, tem cariocas que são folgados, e não queriam me levar pois poderia riscar o carro deles grrr), cheguei no hostel, fui muito bem recebida, pelos donos, eles moram na casa, onde adaptaram-na para acomodar pessoas, uma graça, na parte de baixo onde fiquei tinha uma sala com TV, quartos, banheiros, copa e mesa, tudo muito arejado, limpinho, arrumado. Dormi muito bem, tanto que me atrasei para a primeira palestra. Acordei, tomei café da manhã e mais um taxi, esse foi engraçado, a cadeira não cabia, mas o cara era muito entusiasmado, disse que levava cadeira de rodas com o porta-malas aberto, amarrou-a e fomos, como era perto, só fiquei com um pouquinho de medo da cadeira cair pra fora. Cheguei no simpósio, que já estava na metade da primeira palestra do dia. No mesmo esquema do dia anterior, teve pausa, almoço e mais uma tarde de palestras. Dessa vez almocei dentro da universidade, fui no 11° andar e lá estava o restaurante, o único aberto, era feio demais, mas fechei os olhos (o que os olhos não veêm o coração não sente) e comi lá, e estava MUITO bom! Preciso contar um detalhe, a universidade é toda cheia de rampas, têm elevadores mas num esquema de rodízio de andares que eu nunca acertava qual que iria abrir, então gastei carga de baterias subindo e descendo rampas, ah e os banheiros... triste... achei um novinho, reformado, porém quando fui sentar no vaso sanitário, quase tomei meu banho do dia, o assento estava quebrado!!! Acabei usando os velhos e precários, sem água na pia, sem papel (ainda bem que tenho sempre kit sobrevivência). No final, despedi-me das pessoas que fiz amizades nesses dois dias, e fui ao encontro do taxi, e em 10 minutos estava na rodoviária. Olhando de fora e sua parte térrea, ela parece sei lá... construção de subúrbio, porém quando subi, parecia um shopping center "5 estrelas", tinha de tudo, meus olhos brilhavam, encontrei um banheiro "5 estrelas", aaah estava no paraíso. Deu o horário do ônibus (18h15) e embarquei de volta pra São Paulo. A volta foi bem melhor que a ida, pois na ida não conseguia dormir, chegando próximo ao RJ tem muitas curvas, eu achei que fosse morrer, o motorista corria demais. Mas na volta não, o motorista foi tranquilo, fui assistindo "Shrek" o primeiro, e depois "Uma mente brilhante"... cheguei em SP 00h30. Minha mãe se perdeu e chegou para me buscar 01h40, tadinha, preciso comprar um GPS para ela. rs...


Resumindo, essa experiência de ir para o RJ sozinha foi muito importante para mim, primeiro para poder mostrar para os desacreditados que acham que deficiência impede a pessoa de fazer o que quer, o que não é verdade, impede se a pessoa permitir, se ela quiser ela faz, ela pode. Segundo para aprender mais sobre o tema que identifico-me muito, foi muito bom pois ampliou a minha forma de enxergar, terceiro para ganhar um pouco mais de autonomia e confiança de mim mesmo.









sexta-feira, 14 de maio de 2010

Felipe, um grande amigo!

Tem momentos na vida que ficamos refletindo de tudo, principalmente quando passamos por situações que nos levam uma hora o "despencar emocional", precisando de uma pausa para nos reestruturarmos, onde é o momento que entram as grandes reflexões. Acho que me encontro nesse momento, como no post anterior, me peguei refletindo das coisas que fiz, precisei me apoiar nessas conquistas, lembrando que a vida é sempre para aprendermos, ou seja, tudo o que passamos é para nosso aprendizado, por mais que seja duro.

Na minha vida existem ou existiram muitas pessoas que são parte do que sou hoje e um grande exemplo na minha vida de uma pessoa que teve uma grande influência, lá atrás, para eu ser quem sou, foi um rapaz chamado Felipe, um grande amigo. O conheci em 2003, durante um simpósio espírita, onde ele deu uma excelente palestra contando da sua própria vida.
O Felipe tem distrofia muscular assim como eu, porém um outro tipo, Ducchene, e vê-lo ali expondo sua vida, suas conquistas, suas dificuldades, foi tão forte pois foi como se eu estivesse ouvindo a minha própria história, e percebi que eu não estava sozinha nessa "empreitada" de ser deficiente portadora de distrofia muscular embora sabendo que existem milhares de portadores de distrofias pelo mundo, mas era diferente, era muito real, e ele era especial, tinha um "q" de diferente.
Senti uma enorme necessidade de estar perto dele, de falar com ele, e quando acabou o simpósio fui até ele e ficamos conversando, e olha que na época eu era tímida, não conseguia chegar nas pessoas e conversar, mas com ele era diferente, acredito que foi um encontro de almas amigas, trocamos telefones e passamos a nos falar sempre. Eu contava das coisas que eu fazia, ele contava o que ele fazia, me sentia muito feliz de tê-lo como amigo, como ouvinte, conselheiro, "compatível", sempre era muito prazeroso passar as tardes falando com ele ao telefone. Tentávamos nos encontrar mas como ele dependia muito da ajuda dos familiares e amigos ficava difícil, até que o convidei para a minha formatura (colegial) e ele foi! Fiquei muito feliz!

Acredito que o Felipe foi a minha primeira amizade verdadeira, embora eu tivesse amigos na época e que tenho até hoje, mas ele era um exemplo de amizade que envolvia muito amor, carinho, respeito, admiração, identificação, era muito intensa, muito bonita de viver, eu me sentia capaz de ser alguém no mundo com distrofia, pois ele já era formado, dava aulas, tinha planos, fazia palestras, escrevia inúmeros textos.

O Felipe é o exemplo de uma pessoa que tem uma bondade infinita, dono de uma sabedoria infinita, que está sempre fazendo algo na vida mesmo com todas as dificuldades que a distrofia infelizmente vai colocando para ele, ele é um guerreiro!

Ele estava escrevendo um livro, não sei se terminou e publicou, sobre a vida dele, e um tempo atrás, como ele já falava, que se ele escrevesse um livro eu estaria com certeza nele, ele me mandou a parte que ele falou que eu apareceria, o que me deixou surpresa que na verdade, ganhei um capítulo inteiro, mais ou menos 10 páginas, fiquei muito emocionada e surpresa pois não imaginava que eu tivesse feito algo que preenchesse tanta página, pois ele quem fez muito mais na minha vida... Hoje quando resolvi escrever sobre esse rapaz tão valioso, peguei novamente o capítulo, e não pude conter lágrimas de como fomos tão especiais um para o outro.

Hoje não temos mais tanto contato, acredito que precisávamos nos encontrar naquele momento para acrescentar algo na vida um do outro para daí seguirmos em frente, embora uma vez ou outra nos esbarramos e matamos saudades.

Só tenho que agradecer ao Felipe por ter feito parte da minha história.

Deixo aqui para vocês apreciarem o blog do Felipe:
http://compartilhavida.wordpress.com/

sexta-feira, 7 de maio de 2010

trajetória...

Me peguei um dia pensando que não fiz muita coisa até hoje, que devia ter feito mais, que tanta gente faz tanta coisa e eu, o que eu fiz nesse tempo todo? E aí veio a resposta.

Desde pequena, uma garotinha "serelepe", sempre muito esperta, brincalhona, criativa, vivia inventando coisas, fazia minha família dar altas risadas na mesa do almoço, era a criança sapeca.
Comecei a fazer natação aos 7 anos de idade.
Com 15 anos decidi fazer piano, pois assisti um musical de Teatro que meu primo Adri (maravilhoso, talentosíssimo, espetacular) fazia e fiquei encantada e até hoje não parei de tocar.
Logo após, com meus 16 anos, entrei para uma equipe de natação e comecei a competir, cheguei até viajar para alguns lugares (Belo Horizonte e Rio de Janeiro), conquistei medalhas, de ouro inclusive, conheci muita gente, foi muito importante na minha vida, pois conquistei, fui capaz. Além da natação, comecei a treinar Tênis de Mesa, participei de um único campeonato, peguei bronze na minha categoria mas acabei desistindo, não levava jeito para a coisa...rs.
Entrei para a faculdade, Biomedicina e logo em seguida arrumei meu primeiro emprego.
Em 2005 fui assistir uma peça de teatro musical, na Oficina dos Menestréis, com cadeirantes e deficientes visuais, fiquei encantadíssima e pensei "Nossa, nunca iria conseguir estar num palco como eles" e aí que depois de quatro meses, lá estava eu no meio da trupe (nunca digam nunca rs). Foram mais de 35 apresentações de 4 peças diferentes e até apresentação em Brasília.
Digamos que ter vivido o que vivi no teatro foi um grande passo para eu reconhecer as minhas qualidades, de aceitar quem sou, e de acreditar que sou realmente capaz. A minha jornada no teatro encerrou-se com 3 anos de muita dedicação. Foi por minha escolha, pois senti que cumpri o que queria. Nesse ano de saída do teatro foi um ano de saída da faculdade, por outros motivos que não vale a pena citar aqui, tive que sair. Nesse mesmo ano, fiz parte de um curso de dança, danceability, por dois meses e duas apresentações finais, acho que nunca vivi algo tão prazeroso, tão intenso, tão surreal. A dança é forma mais intensa de auto-conectar-se ao corpo, e nessa dança, danceability, tive a oportunidade de me conhecer, sentir minhas limitações e explorá-las, em conjunto com outras pessoas que também estavam lá com o mesmo propósito. Houve muito improviso e contato, o que explora a sua capacidade de criar com o outro novas formas de expressão corporal, sentindo, respirando cada movimento...nossa, foi muito bom.
No ano seguinte comecei uma nova faculdade, Psicologia, e nesse ano psicologicamente foi bem complicado, comecei a entender os processos psicológicos que eu fazia comigo mesmo, as minhas próprias armadilhas, os meus medos, as minhas fraquezas, as limitações dos outros, muita gente que passei a desacreditar, muitas decepções, acabei tendo que procurar um apoio psicológico, para me ajudar a conseguir superar tudo, enxergar as coisas boas novamente e seguir meu caminho.

Nesse ano agora, decidi dedicar ao canto, aliás, antes em 2008 fiz parte da Oficina de Coral da USP por um ano, aprendi que cantar não é nada fácil, tem que respirar direito, prestar atenção na afinação, tem que saber muito bem teoria musical. Daí para dar um salto comecei paralelamente canto popular com uma cantora maravilhosa, Juliana Caldas, que fez milagre, conseguiu me afinar mesmo eu não tendo nada de talento para cantar, mas se bem que confesso que achei que fazendo aula com a Ju eu fosse conseguir roubar 1/3 da voz dela, não consegui, uma pena...:p. Bem, voltando ao começo do parágrafo, entrei em fevereiro deste ano na Oficina de Coral Luther King, e lá faço também propedêutica (teoria musical) e técnica vocal, bem, vamos ver se agora essa voz de "taquara rachada" dá uma melhorada.

Sinto que estou amadurecida, comparando com aquela garotinha de 15 anos que decidiu fazer piano, claro, não o suficiente, ainda tenho um chão enorme pela frente, mas posso dizer que fiz muita coisa sim, e que vou fazer ainda mais.

Estagiários adolescentes da SPTrans

Este post será uma extensão do anterior...

Logo após ter publicado o post anterior, assim, não tão após, depois de uns quinze dias, me ligaram da assessoria de imprensa da SPTrans, perguntando sobre o post anterior "Criançada da SPTrans". Bem, eu quase caí para trás, na hora pensei, "Vou ser presa!", mas daí a mulher que ligou, me deixou tranquila dizendo que queria saber o que realmente tinha ocorrido. Contei para ela o que já havia escrito no blog, porém mais detalhadamente e deixei claro que a intenção do blog é de desabafo pessoal, que eu não quero em momento algum prejudicar alguém.
Ela disse que me procuraram surpresos pois nunca tiveram reclamação sobre o atendimento do pessoal adolescente da SPTrans, e que eles cometeram um erro sim ao dizer que só podia ser Boletim de Ocorrência On Line, e aí já constataram o supervisor de lá para corrigir. Perguntei a ela se gostaria que eu tirasse o post do blog, pois não quero que isso cause uma má impressão do projeto, embora que a situação fosse toda foi "chata" eu poderia ter tido pouca sorte no dia e não via problema algum em tirar, mas ela disse que não precisava, pois a intenção era saber o que realmente aconteceu e esclarecer o programa já que eu deixei claro que não concordava com o mesmo.

Ela disse que esse programa é uma iniciativa do governo de são paulo na ideia de capacitar jovens adolescentes (estagiários) justamente com esse público (idosos e deficientes) pois acreditam que isso ajudará no amadurecimento desses jovens para a vida. Ela disse também que muitos desses jovens entram no programa de um jeito e saem totalmente diferentes, ela não usou esse termo, mas seria evoluídos. Esses jovens são supervisionados por estagiários em Psicologia. Ela finalizou a ligação pedindo desculpas do ocorrido, e eu pedindo desculpas pelo post.

O mais curioso de tudo que uns dias antes da ligação dessa pessoa fui convocada para estagiar justamente nessa área, para supervisionar esses jovens, só não aceitei pois a unidade que eu teria que trabalhar é no Centro e o horário incompatível, mas achei muito engraçado, ser convocada justamente para trabalhar com os jovens que julguei, e aí mais uma lição, que não devemos, NUNCA, julgar ninguém, mesmo que soframos injustiças, pois cada um faz o que acha que é certo, quantas vezes não somos injustos com as pessoas na vida?

Então finalizando, esse post era para dizer que por mais que passei alguns constrangimentos com a "criançada da SPTrans", esse termo é até bem agressivo, quero deixar que estou arrependida por ter julgado-os, peço desculpas e que compreendo que eles estão da mesma forma que eu, no caminho da vida, errando, acertando, errando...

terça-feira, 30 de março de 2010

Criançada da SPTrans

Tirando a teia do blog!!

Depois de alguns meses resolvi dar as caras, na verdade tinha esquecido da existência do coitado do meu blog, rs... e pra ajudar não lembrava o login e a senha, imagine o desespero!

Bem, estou de volta e rápido uma breve introdução para a próxima "história".

Meu ano começou meio estranho, lado emocional em conflitos, primeira semana do ano no pronto-socorro com virose, segunda semana roubaram a minha bolsa dentro do meu local de trabalho, semanas seguintes lutando bravamente para conseguir tirar todos os documentos, cartões, etc...

Agora posso dizer que está tudo a mil maravilhas, viajei, fui em shows maravilhosos, conheci novas pessoas, a faculdade está muito legal, estou me dedicando ao canto, enfim, agora sim sinto que 2010 está sendo "o" ano.

Bem, como disse aí em cima, roubaram a minha bolsa e foi um sacrifício tirar todos os documentos novamente, mas o PIOR de todos foi a bendita da carteirinha especial da sptrans que eu citei no último post.

Gente, que sufoco, nunca fiquei tão estressada, chateada, aborrecida, indignada... vixe dá para listar vários sentimentos negativos.

Fui no posto da sptrans logo que voltaram as aulas para entrar com pedido de segunda via, a fila era gigantesca. Uma garota com o crachá de funcionária, tinha aproximadamente 16 anos pediu para ver os meus documentos e leu meu B.O e disse que não servia porque nele não citava o bilhete especial, pediu para que eu fosse novamente na delegacia, como se fosse suuuuper fácil, como se a delegacia fosse um shopping center, eu disse educadamente que não iria a delegacia que era pra ela ler direito, aí ela leu e tornou a repetir que não servia. Peguei o B.O e comecei a ler bem alto para ela e todos ouvirem a parte que citava o bendito bilhete único. Sim, fui impaciente e grossa.
Como estava cheio resolvi adiar e voltar depois.
Duas semanas depois voltei, e estava cheio, mas resolvi encarar, novamente um garoto na mesma idade da garota pediu para ver meus documentos, e disse que meu B.O não servia pois era B.O on line, pediu para eu ir a uma delegacia fazer um novo B.O, eu não sei o que passa na cabeça dessa garotada, mas gente... na hora o sangue subiu, mas não perdi a classe, virei para ele e disse: Você está dizendo então que meu B.O é falso? Então vou chamar a polícia e aí você se entende com ela, pois não é a mim que vc está chamando de falsa. Ai o garoto ficou sem jeito e falou se eu queria falar com o supervisor dele, e eu disse "Com certeza", o supervisor veio e eu expliquei que meu B.O era on line, assinado por um delegado, enviado para o meu email após um dia e ainda tive que falar por telefone com um policial e não fui a delegacia pessoalmente no dia pois estava chovendo forte e eu SOU CADEIRANTE!. O supervisor disse que iria aceitar o meu B.O mas que a SPTrans iria recusar assim que chegasse na central e que eu não iria conseguir meu bilhete especial, eu concordei mesmo assim, e pensei, se recusarem vão se arrepender, isso vai virar um escandalo. Aguardei 2 horas para ser atendida, e quando finalmente fui atendida a garota responsável pelo cadastro (menor de idade também) pediu para assinar um papel que dizia que eu permitia que desconsiderassem meu B.O por ele ser on line, pedi desculpas e falei que não iria assinar, pois não concordava com isso. Ela se levantou e foi falar com o supervisor, voltou e rasgou o papel e fez um outro onde eu assinaria que estava ciente que meu B.O era on line, daí assinei. Após isso ela não queria aceitar a cópia autenticada do meu RG, e eu disse "Acontece que fui roubada, NÃO ando mais com original" e novamente foi falar com supervisor, voltou e aceitou. Fui embora. Passaram dez dias, o bilhete novo chegou em casa.

Agora me diz, e os idosos que vão lá com um sacríficio danado, com dores nas pernas, cansaço, normalmente doentes, e esses garotos dizem secamente que "não pode isso e aquilo", "não aceitamos" muitos vão embora para casa sendo que poderiam até estar com tudo em mãos, certinho, mas por um desleixo e falta de atenção de um desses garotos passa batido. Pra quê tanta burocracia? Cadê o amor dessas pessoas para com as outras?

Acho super viável que o governo dê emprego para os adolescentes "Programa meu primeiro emprego", mas na minha opinião adolescentes não servem para lidar com esse público, eles ainda não possuem a noção do que é viver, sofrer, não respeitam quem merece ser respeitado.

Só um ps. existem as exceções, existem adolescentes maravilhosos, que sei lá, por educação em casa ou por destino a vida impôs logo cedo obstáculos e assim sabem respeitar ou melhor, tem compaixão dessas pessoas, no último dia havia um garoto que era simpático e atencioso com todos, mas o restante, nem olhar nos olhos eles olhavam.