Pra começar preciso explicar o porque que sou cadeirante. Eu tenho uma deficiência genética chamada Distrofia Muscular, do tipo Faceo- Escapulo- Umeral. Essa deficiência acomete a musculatura de algumas partes do corpo, atrofiando-as e assim a pessoa com essa deficiência pode perder a capacidade de locomoção, se manter em pé, levantar os braços, fazer força, e outros comprometimentos de ordem muscular. Bem, e aí que essa deficiência não acomete esses músculos de uma hora para a outra, ela vai aos pouquinhos, bem lentamente (no meu caso), ao ponto que aos 16 anos precisei de uma cadeira de rodas para poder ganhar novamente a minha liberdade (história para um próximo post).
Agora sim, a praia.
Desde criança adoro nadar como já disse num post anterior, aos 7 anos fui colocada na natação, logo, amo água. Praia sempre esteve presente na minha vida, na minha infância principalmente, minha Nonna tinha casa na praia e sempre eu estava por lá. Com o passar dos anos, quando comecei a ter mais dificuldade na questão de força, a praia começou a se tornar algo perigoso, aversivo, uma vez que as ondas tinham mais força que eu, comecei a ter medo. Então resolvi não entrar mais no mar e nem aceitar ajuda de ninguém, pois adolescente, sabem como é, rebeldia total, e conseqüentemente raramente freqüentava a praia, e quando freqüentava ficava só na areia, tostando.
Quando foi em 2008, viajei com uns amigos para o Guarujá já com a intenção de ficar só na milanesa (rolando na areia), e um amigo insistiu que me levaria no colo no mar. Relutante a ideia, mas ao mesmo tempo algo dentro de mim dizia que seria muito importante para mim pois já faziam alguns anos que não entrava no mar, seria então uma nova experiência praticamente, e foi. Agarrei no pescoço dele fortemente, e fomos. As ondas batiam com força mas ele não perdia o equilíbrio. No começo fiquei com muito medo de cair e as ondas me levarem para bem longe (pelo menos era isso que a minha mãe dizia, que o mar é traiçoeiro). Meu amigo era grande, alto, forte, e eu magrela, o que facilitou muito naquele dia de mar bravo. Fui relaxando, e comecei a curtir. Digo que foi a primeira vez depois de grande que entrei no mar. Inesquecível.
Das histórias de praia depois de cadeirante, não pode faltar também a vez que fui para a praia grande (no ano passado) com umas amigas. Passeando pela V. Guilhermina deparamos com um stand enorme escrito "Praia Acessível". Quase gritei quando vi. Fiquei pensando na hora: O que é isso? Como será isso? Areia ladrilhada? Praia sem ondas? Salva-vidas fortes musculosos exclusivos só para mim? Ai ai o que é isso? Daí logo quando nos aproximamos, avistamos cadeiras de rodas especiais para entrar na água. Meus olhos brilhavam, tudo bem que salva-vidas seria uma boa ideia também, mas a ideia dessas cadeiras me extasiaram. No dia seguinte voltamos para eu experimentar essa novidade. Fui super bem recebida pelos responsáveis do projeto e logo já disponibilizaram uma cadeira acessível (vide foto abaixo). Dois responsáveis me levaram com essa cadeira até dentro do mar, o mais legal que as ondas vinham com tudo e a cadeira não virava, foi totalmente projetada para encarar as ondas. Foi muito gostoso, valeu muito a pena.
Essa semana estive novamente na praia grande e o projeto não se encontrava. Tudo que é bom de verdade parece que não vinga nesse país (sim, falo mesmo!). O mais legal que o medo de entrar no mar e encarar as ondas não existem mais, nessa semana na praia grande, um amigo me levou até numa parte onde não tinham tantas ondas quebrando e fiquei lá com a minha prima, tudo bem que em alguns momentos algumas das danadas ondas pegavam a gente de surpresa e eu experimentava aquela água salgada "saborosa", olhos ardendo, mas nada de afogamento grave, foi bem gostoso. Resultado: voltei a ativa no mar.
É isso!
Cadeirantes: Podem ir no mar sim, desde que saiba no mínimo respirar debaixo da água, o mar estando calmo, ir até a beira com a cadeira, (sem deixar a água salgada encostar nas rodas pois estraga) e alguém (de preferência forte) pega no colo e te leva até uma parte razoavelmente tranqüila, fica com alguém que você goste e confie curtindo o balanço do mar, as ondas, a "refrescância", tudo de bom! Recomendo!