quinta-feira, 24 de junho de 2010

Viagem ao RJ, começo de autonomia?

Depois de uma aula na faculdade, fiquei refletindo no que o professor disse, na importância de participarmos de simpósios, palestras, cursos, e naquele dia comecei a fazer buscas de palestras que eu poderia ir... e acabei achando no próprio site do professor um simpósio com um tema que me identifiquei logo de cara, "Bebês e a Psicanálise: um diálogo" porém com um detalhe, no RJ. É engraçado porque logo quando vi pensei, dá pra eu ir...vou de ônibus, arrumo um lugar pra dormir e volto, são só dois dias mesmo. Comecei a pesquisar profundamente, olhei o google maps, vi que era ao lado do Maracanã (em 2004 fiz minha classificação lá, não era tão desconhecido), achei um hostel na avenida de trás, liguei para saber da acessibilidade e reservei, peguei o telefone do taxi acessível (taxi adaptado para cadeira de rodas), comecei a estipular horário de ida e volta, até tentei ir de avião mais eles não deixam baterias líquidas embarcarem, somente se for de gel ou lítio então tive que escolher a companhia de ônibus e pronto, teoricamente estava tudo certo.

Contei para a minha mãe a ideia e ela ficou meio assustada, disse que era perigoso, pois eu podia levar uma bala perdida, confesso que fiquei com medo de levar mesmo rs... mas insisti que daria certo, mostrei para ela, e acabei convencendo, não tinha nada para dar errado.

No dia da viagem liguei para a companhia de taxi marcando que me pegassem na rodoviária no horário que chegaria (no dia seguinte).
Embarquei 00h30, com aquele frio na barriga sem a menor ideia do que estava me esperando, primeira vez que viajava sozinha, não teria nenhum conhecido me esperando, uma aventura.
Chegamos no RJ por volta das 06h40, o taxi estava me esperando, detalhe, taximetro ligado pois havia passado 15 min do combinado.
Comecei a ter crises de risos internos do sotaque carioca, primeiro porque eu não conseguia falar o nome da universidade, "uerj", pois tem um lance de acentuação, seria assim "uéérrrgixx" bem esquisito, só aprendi no último dia. Fui direto para a "uéérrrgixx" onde seria o simpósio, cheguei bem cedo, 07h15, só tinha a mulher dos crachás. Entrei no auditório, e lá fiquei. Teve uma pausa para o café, onde tinham vários comes e bebes, e um "tiozinho" dos livros, não resisti acabei trazendo dois =D. Na hora do almoço, tive que procurar algum lugar para comer, disseram que dentro da universidade eu conseguiria encontrar, porém passei por uma e não deu vontade de almoçar lá, então resolvi arriscar sair da universidade. Quando chego a porta, uma surpresa, TINHA GUIA REBAIXADA \O/ primeiro ponto positivo, consegui atravessar a avenida, e fui procurar uma lanchonete. Achei dois botecos, preferi o segundo, tinha mais gente. Comi mal, pois sou fresca pra comer, mas o feijão (preto, lá é preto o principal, marrom é raro) estava muito bom. Agora, fiquei bem assustada pois drogados andam normalmente pelas ruas (se bem que eu estava numa região de periferia) pedindo esmola, pediram para mim duas vezes. Voltei ao simpósio e tive uma tarde agradável de palestras. Ao final, descobri que tinha um shopping próximo da região e resolvi ir para poder jantar e dar uma volta. Peguei um taxi (tão lindo os taxis amarelos ai ai) lá de dentro da "uéérrrgixx", achei muito engraçado, pois os caras não estão acostumados com cadeirantes e ainda por cima paulista, além do motorista foi um outro junto, para "ajudar". Quando estávamos chegando perto do shopping avistei que colado ao shopping havia um morro (favelas) e perguntei, qual era aquele morro, e era dos "Macacos"... aí pensei, "É, estou mesmo no Rio", e quando passávamos na frente do estacionamento para entrar, várias viaturas de polícia fecharam o estacionamento, desceram armados com fuzil e metralhadora, fazendo parar todos os carros que saiam do shopping...daí falei, "Moço, será que não é melhor eu não entrar aí?" aí ele disse que assim que fizéssemos a volta os policiais já teriam ido embora, e dito e feito... mas quem garantia que não ia ter bandido dentro do shopping? Bem, eu fui do mesmo jeito, já estava lá... achei o shopping muito parecido com o shopping Market Place de SP, só que lá se chama Iguatemi. Fui no Mcdonald's para ver se o gosto era o mesmo, e era!!! rs.. Dei uma volta e andando pelas lojas uma senhora me falou (imaginem sempre o sotaque) "Você anda sozinha?" aí eu respondi que sim... aí ela "Ah que bom, deve ser para você aprender a se virar né?", tive que concordar, mas ela nem imaginava o quão longe eu estava da minha casa e naquele momento desejei ter 5 anos para poder abrir o berreiro no meio do shopping pedindo a minha MÃÃÃÃEEE... rs... Terminei o passeio, marquei um taxi para a volta (rodoviária) do dia seguinte e fui para o hostel dormir. Peguei um taxi (suado por sinal, pois ao contrário de sp, tem cariocas que são folgados, e não queriam me levar pois poderia riscar o carro deles grrr), cheguei no hostel, fui muito bem recebida, pelos donos, eles moram na casa, onde adaptaram-na para acomodar pessoas, uma graça, na parte de baixo onde fiquei tinha uma sala com TV, quartos, banheiros, copa e mesa, tudo muito arejado, limpinho, arrumado. Dormi muito bem, tanto que me atrasei para a primeira palestra. Acordei, tomei café da manhã e mais um taxi, esse foi engraçado, a cadeira não cabia, mas o cara era muito entusiasmado, disse que levava cadeira de rodas com o porta-malas aberto, amarrou-a e fomos, como era perto, só fiquei com um pouquinho de medo da cadeira cair pra fora. Cheguei no simpósio, que já estava na metade da primeira palestra do dia. No mesmo esquema do dia anterior, teve pausa, almoço e mais uma tarde de palestras. Dessa vez almocei dentro da universidade, fui no 11° andar e lá estava o restaurante, o único aberto, era feio demais, mas fechei os olhos (o que os olhos não veêm o coração não sente) e comi lá, e estava MUITO bom! Preciso contar um detalhe, a universidade é toda cheia de rampas, têm elevadores mas num esquema de rodízio de andares que eu nunca acertava qual que iria abrir, então gastei carga de baterias subindo e descendo rampas, ah e os banheiros... triste... achei um novinho, reformado, porém quando fui sentar no vaso sanitário, quase tomei meu banho do dia, o assento estava quebrado!!! Acabei usando os velhos e precários, sem água na pia, sem papel (ainda bem que tenho sempre kit sobrevivência). No final, despedi-me das pessoas que fiz amizades nesses dois dias, e fui ao encontro do taxi, e em 10 minutos estava na rodoviária. Olhando de fora e sua parte térrea, ela parece sei lá... construção de subúrbio, porém quando subi, parecia um shopping center "5 estrelas", tinha de tudo, meus olhos brilhavam, encontrei um banheiro "5 estrelas", aaah estava no paraíso. Deu o horário do ônibus (18h15) e embarquei de volta pra São Paulo. A volta foi bem melhor que a ida, pois na ida não conseguia dormir, chegando próximo ao RJ tem muitas curvas, eu achei que fosse morrer, o motorista corria demais. Mas na volta não, o motorista foi tranquilo, fui assistindo "Shrek" o primeiro, e depois "Uma mente brilhante"... cheguei em SP 00h30. Minha mãe se perdeu e chegou para me buscar 01h40, tadinha, preciso comprar um GPS para ela. rs...


Resumindo, essa experiência de ir para o RJ sozinha foi muito importante para mim, primeiro para poder mostrar para os desacreditados que acham que deficiência impede a pessoa de fazer o que quer, o que não é verdade, impede se a pessoa permitir, se ela quiser ela faz, ela pode. Segundo para aprender mais sobre o tema que identifico-me muito, foi muito bom pois ampliou a minha forma de enxergar, terceiro para ganhar um pouco mais de autonomia e confiança de mim mesmo.